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A importancia do profissional de nutrição na atenção básica de saúde e na educação fundamental

A importância do Profissional do Nutricionista nas Unidades Básicas de Saúde e Escolas.

Nutr. Rodrigo Augusto de Oliveira
Nutr. Cristiane Kovacs
Dr. Daniel Magnoni

A inserção do profissional de nutrição em unidades básicas do sistema de saúde

Nas últimas décadas o Brasil tem passado por uma transição demográfica que caracterizou uma fase onde a desnutrição e déficits de crescimento deram lugar a um aumento da expectativa de vida, cuja melhora se deve ao fato do foco direcionado a população, para a erradicação de doenças e promoção da saúde. Entretanto, é notório o fato de que a falha de diversas políticas públicas de outrora, geraram um comportamento no qual a primazia pela prevenção pela alimentação e cuidados básicos, foi substituída pelo domínio de estilos de vida rotineiros e estressantes, que por sua vez influenciam a escolha final da refeição do Brasileiro.

Em recente estudo, Monteiro et al1., afirma que o conceito equivocado da inevitabilidade das doenças crônicas certamente está na base da ausência ou incipiência das ações públicas dirigidas ao controle, por exemplo, do tabagismo, do alcoolismo e da obesidade. De acordo com o Ministério da saúde, a promoção da saúde pode ser definida como um processo de envolvimento da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida, incluindo uma maior participação no controle deste processo. [...] Os indivíduos e grupo devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. A saúde deve ser vista como um recurso para a vida e não como um objeto de viver2.

 Face ao cenário exposto, no campo das políticas públicas, a resposta mais adequada parece ser a conjugação de esforços intersetoriais e multidisciplinares para a implementação de ações articuladas e condizentes com as necessidades do perfil de saúde e nutrição da população3. É nesse contexto que se insere o profissional da área de nutrição, que ao mesmo tempo em que auxilia na prevenção de doenças e promoção da saúde, atua de forma significativa no atendimento a população.

 A obesidade pode ser definida, de forma resumida, como o grau de armazenamento de gordura no organismo associado a riscos para a saúde, devido a sua relação com várias complicações metabólicas4.

Quando falamos de obesidade, devemos levar em consideração o papel do nutricionista que é fundamental para este indivíduo, pois é necessário um enfoque nutricional/dietético que inclui a avaliação do estado nutricional, compreendendo diferentes etapas que se complementam: avaliação antropométrica, dietética, clínica, laboratorial e psicossocial, tendo como objetivo realizar o diagnóstico e identificar a intervenção necessária4. Os cadernos de Atenção Básica a saúde, denotam a importância que o profissional nutricionista tem diante de diagnósticos para o paciente com sobrepeso, obesos de diversos graus e aqueles que já possuem co-morbidades associadas.

 

É importante a integração dos nutricionistas em todas as ações de cuidado à saúde, desenvolvidas pela atenção básica, nestas diferentes fases, tais como assistência integral à saúde da criança, ao adolescente, à mulher, ao adulto e ao idoso4.

 A partir da leitura do prontuário e da conversa com o usuário, pode-se ir percebendo as queixas e preocupações que o levaram à consulta. Em alguns casos o usuário não tem noção do papel do nutricionista. No caso de sobrepeso/obesidade, pode ter ido à consulta por meio do encaminhamento de outro profissional e não por seu desejo. Este, portanto, é um momento de aproximação e cabe ao nutricionista acolher o usuário5.

 Logo, o profissional nutricionista abre então espaço para diversos tipos de atividades dentro de uma UBS como, por exemplo, reeducação alimentar, interação e troca de conhecimentos sobre: obesidade, desnutrição infantil diabetes melitus, hipertensão arterial, hiperlipidemias; alimentação da gestante, idosos e crianças; aleitamento materno, climatério, manipulação e higienização de alimentos e utensílios, aproveitamento integral de alimentos e educação continuada aos profissionais das unidades de saúde e promoção à saúde.

Na gestão do sistema de saúde, definindo o fluxograma, dentro da importância, relacionada ao tratamento e prevenção da obesidade, a inserção da atenção à saúde focada na nutrição, deve atuar diretamente na porta de entrada do sistema, participando do processo de cura, diagnóstico e prevenção de doenças.

Resta definir os protocolos de fluxo, voltados à gestão de eficiência e logística de atendimento, tornando-se imprescindível a presença em todos os períodos de atendimento das unidades de profissionais dessa área.

Papel do Nutricionista nas escolas de ensino básico e fundamental

A alimentação infantil, ao mesmo tempo em que constitui fator fundamental para o crescimento e desenvolvimento, pode também ser um dos principais fatores de prevenção de algumas doenças na idade adulta. Organismos internacionais e nacionais, ligados às áreas de saúde e educação, têm expressado a preocupação em desenvolver "atividades promotoras de saúde" no ambiente escolar6.

O nutricionista como o profissional de saúde que atua em todas as situações nas quais existam interações entre o homem e o alimento, pode exercer a sua função de promover a saúde na escola por meio de atividades assistenciais e educativas relacionadas com o desenvolvimento do Programa de Alimentação Escolar, integrando-se com os demais profissionais que atuam nesse espaço7.

A escola depois da família é o espaço que deve estimular hábitos saudáveis de alimentação.  A nutrição inadequada é uma barreira ao aprendizado. Pesquisas mostram que crianças que não se alimentam direito acabam por prejudicar seu desenvolvimento escolar8.

O espaço escolar por ser um local onde ocorre uma constante difusão de ideias, é o mais indicado para a realização de qualquer tipo de atividade que envolva a ação do nutricionista, como palestras, aulas e quaisquer outros meios de comunicação que possam de forma efetiva influenciar as escolhas do educando.

Em uma pesquisa realizada por Cano et al9.,foi observado que em escolas públicas e particulares na cidade de Franca em São Paulo, os hábitos alimentares dos alunos estavam inadequados, devido ao fato do baixo consumo de alimentos básicos e importantes para a formação das crianças, como legumes, frutas e cereais, e em contrapartida um elevado consumo de alimentos industrializados e hipercalóricos como salgadinhos, refrigerantes, chocolates, bolachas doces e bolos.

O ambiente de ensino, ao articular de forma dinâmica alunos e familiares, professores, funcionários técnico–administrativos e profissionais de saúde, proporciona as condições para desenvolver atividades que reforçam a capacidade da escola de se transformar em um local favorável à convivência saudável, ao desenvolvimento psico-afetivo, ao aprendizado e ao trabalho de todos os envolvidos nesse processo podendo, como conseqüência, constituir-se em um núcleo de promoção de saúde local10.

Faz-se então necessária as aplicabilidades do conhecimento do nutricionista dentro de uma unidade escolar, que por sua vez irá auxiliar no desenvolvimento de hábitos nutricionais saudáveis e corretos desde a infância. Crianças que ajudam no preparo das refeições tornam-se mais dispostas a comer e tendem a apresentar menos restrições alimentares. Para alcançar crescimento físico e desenvolvimento neurológico adequados e não aumentar as possibilidades de doenças relacionadas a más escolhas alimentares, como diabetes, obesidade, osteoporose, anemia, dislipidemias (desequilíbrios nas taxas de colesterol e triglicerídeos), é importante alimentar-se de modo equilibrado11.

As intervenções nutricionais direcionadas à obesidade desenvolvem-se, com maior freqüência, na prática clínica, todavia, sabe-se que as escolas também propiciam uma oportunidade valiosa para prevenir e tratar este distúrbio12.

Segundo Kain et al. (2001), programas educativos direcionados a escolares constituem uma das estratégias mais importantes para enfrentar a obesidade na população infantil, uma vez que a cobertura no ensino fundamental é de praticamente 100%. Países com altas prevalências de obesidade têm obtido sucesso com a implementação de programas de educação nutricional, visando reduzir os fatores predisponentes a este distúrbio em escolares14,15.

Conclui-se então, que o nutricionista exerce um rol de atividades na escola de forma crucial para que ocorra o desenvolvimento saudável da criança, entre eles a educação nutricional que é uma ferramenta importante contra o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis como a obesidade. A alteração de cardápios para uma refeição balanceada e que promova a saúde é também de extrema importância, pois o comportamento infantil é baseado na sua repetição dentro do meio no qual ele convive, por isso a abordagem do nutricionista se faz fundamental neste aspecto.

De forma pragmática, dentro da conscientização de implantação didática de alimentação e nutrição saudável, resta definir prioridades de inserção curricular, avaliação de potencial docente e ações de seguimento, sejam no rol didático, ou mesmo, na alimentação escolar.


 Referências Bibliográficas

 1-    MONTEIRO,C.A.; MONDINI, L.; SOUZA, A. L. M. & POPKIN, B. M., 1995. Da desnutrição para a obesidade: A transição nutricional no Brasil. In: Velhos e Novos Males da Saúde no Brasil: A Evolução do País e de suas Doenças (C. A. Monteiro, org), pp. 247-255, São Paulo: Editora Hucitec.

 2-    MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria Nº 648, 30 de março de 1999. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Brasília DF, 2006.

 3-    CFN - CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. Resolução CFN n° 380/2005.

 4-    WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity: preventing and managing the global epidemic: report of a WHO consultation on Obesity. Geneva, 1998.

 5-    Cadernos da Atenção Básica – Obesidade. Cadernos da Atenção Básica nº 12. Ministério da Saúde. Brasília. 2006. Disponível em http://dtr2004.saude.gov.br/dab/documentos/cardernos_ab/documentos/abcad12.pdf.

 6-    ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Escuelas promotoras de la Salud. Washington DC, 1996a. 72p. (HSP/SILOS – n.36).

 7-    COSTA, E.Q; RIBEIRO, V.M.B; RIBEIRO, E.C.O. Programa de alimentação escolar: espaço de aprendizagem e produção de conhecimento. Rev. Nutr. [online]. 2001, vol.14, n.3, pp. 225-229.

 8-    SILVA ACA., JUNIO RT., MONTEIRO MI. Analisando conhecimentos e práticas de agentes educacionais e professoras relacionados à alimentação infantil. Ciência Ed. v16, n1, 2010.

 9-    CANO, Maria Aparecida T.; et al. Estudo do estado nutricional de crianças na idade escolar na cidade de franca-sp: uma introdução ao problema. Revista eletrônica de Enfermagem, v.7, n.02, p.179-184, 2005.

 10- PROMOÇÃO DA SAÚDE. Escolas Promotoras. Disponível em: . Acesso em: 20 maio 2000.

 11- VIEIRA, Marta Neves Campanelli Marçal; SANTOS, Graziela Vieira Bassan; RESENDE, Cristina Maria Mendes. Nutrição da Criança Pré-escolar e Escolar. In: MONTEIRO, Jacqueline Pontes; JÚNIOR, José Simon Camelo. Nutrição e Metabolismo-Caminhos da nutrição e terapia nutricional da concepção á adolescência. Rio de Janeiro, ed. Guanabara Koogan S. A., p. 278-300, 2006.

 12- SAHOTA, P., RUDOLF, M. C. J., DIXEY, R. HILL, A. J., BARTH, J. H., CADE, J. Evaluation of implementation and effect of primary school based intervention to reduce risk factors for obesity. British Medical Journal, Londres, v. 323, p. 1-4, 2001.

 13- KAIN, J., OLIVARES, S., CASTILLO, M.., VIO, F. Validación y aplicación de instrumentos para evaluar intervenciones educativas em obesidade de escolares. Revista Chilena de Pediatria, Santiago, v. 72, n. 4, p. 308-318, 2001.

 14- WECHSLER, H., DEVERAUX, R. S., DAVIS, M., COLLINS, J. Using the school environment to promote physical activity and healthy eating. Preventive Medicine, v. 31, p. 121-137, 2000.

 15- MANIOS, Y., MOSCHANDREAS, J., HATZIS, C., KAFATOS, A. Health and nutrition education in primary schools of Crete: changes in chronic disease risk factors following a 6-year intervention programme. British Journal of Nutrition, Londres, v. 88, p. 315-324, 2002.

 

 

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