Aspectos nutricionais da deglutição em pacientes que sofreram intubação orotraqueal
Fonoaudiologia Ana Maria Furkim
( projeto de tese – texto científico desenvolvido para aplicação em pesquisa clínica)
No hospital, alguns procedimentos nos cuidados de terapia intensiva podem provocar distúrbios da deglutição, como a intubação orotraqueal. Esta consiste na introdução de um tubo através da boca com o objetivo de atingir a traquéia, quando ficar estabelecido à necessidade de ventilação mecânica ou a manutenção das vias aéreas. (3)
As principais indicações para a intubação são: insuficiência respiratória aguda, obstrução das vias aéreas superiores, apnéia com parada cardiorespiratória, aumento da pressão intracraniana e aspiração traqueobrônquica. Os critérios consistem em avaliação do paciente, equipamentos necessários, seleção do tubo orotraqueal e medicamentos endovenosos. (3 – 4)
As características do paciente podem levar a uma intubação difícil, como pescoço curto, limitação da abertura da boca, obesidade, extensão limitada do pescoço e protusão dos incisivos. Para melhor classificação ou tentativa de agrupamento dos principais problemas encontra-se: congênitos (síndromes, fenda palatina etc.), tumores, problemas dos músculos esqueléticos, traumas (retração cicatriciais do pescoço, fraturas dos ossos da face etc.) e infecções (abscessos faríngeos e epiglotite). (3-5)
A intubação orotraqueal é uma medida menos agressiva que a traqueostomia, apresenta riscos imediatos, de médio e longo prazo, sendo importante alguns cuidados de posicionamento do tubo orotraqueal. A localização ideal da extremidade distal do tubo é 3 cm além das pregas vocais e a ponta do tubo não deve ultrapassar a região cervical. (6)
Estudos anteriores mostram que pacientes submetidos a um longo período de intubação foram analisados através da videofluroscopia, onde constatou-se anormalidades funcionais de língua, palato mole, epiglote, laringe, faringe e esfíncter esofágico superior. Foi registrada aspiração do tipo pré, intra e pós-deglutição e sinais de outras anormalidades de engolir; não foi detectado um padrão específico da deglutição ou aspiração, mas apresentaram uma ampla variedade de tipos de aspiração e de disfunções associadas à deglutição e a videofluroscopia tem a habilidade de revelar as complexas disfunções da deglutição. (7)
As complicações relacionadas com o tempo de intubação e a pressão do cuff no tubo endotraqueal comprometem seriamente a mucosa traqueal, e a pressão inadequada e constante do cuff causa má nutrição tecidual resultando numa necrose que ocasionará em longo prazo uma estenose de traquéia e até de pregas vocais. A colocação de um tubo translaríngico causa profundas alterações no processo de deglutição, diminuindo ou impedindo a elevação da laringe durante a deglutição. A intubação está relacionada com episódios de infecções na forma de pneumonia associada a ventilação mecânica. (8)
Muitos problemas aparecem após a extubação como seqüelas na laringe e traquéia, por lesões que ocorrem durante o período da intubação, as complicações nas primeiras 24 horas após a extubação são obstruções (parciais ou completas) e incompetência da laringe, ambos podem necessitar de reintubação, sendo uma causa comum de falência respiratória. O sintoma comum após a extubação é a rouquidão, de fácil resolução durando poucas semanas, mas pode persistir por mais tempo sugerindo paresia ou paralisia das pregas vocais ou lesão da laringe. A lesão em vias respiratórias e a disfagia são sintomas transitórios também encontradas. (9)
As complicações encontradas pós pacientes submetidos a intubação orotraqueal e que podem cursar com disfagia são: granuloma da laringe, estenose da laringe, incompetência da laringe, estenose da traquéia e traqueomalácia. Os granulomas da laringe podem ocorrer em pacientes submetidos a intubação, sendo sua resolução espontânea em alguns casos, pois em algumas ocasiões podem obstruir as vias aéreas necessitando ressecção cirúrgica. A estenose da laringe é uma séria complicação após a extubação, porém sua frequência é extremamente baixa. A incompetência da laringe encontra-se em paciente durante a anestesia, e sua incidência após a intubação prolongada é motivo de estudos para melhor discussão. Estenose da traquéia resulta de isquemia e posterior ulceração da mucosa ao nível do balonete e a traqueomalácia resulta da destruição da cartilagem traqueal pela pressão do balonete ou tumores extrínsecos na parede lateral, sendo sua frequência desconhecida. (9)
O presente estudo tem como objetivo determinar as características e a incidência de disfagia em pacientes que sofreram intubação orotraqueal, para avaliar a possibilidade de intervenção preventiva para as complicações das disfagias orofaríngeas.
Referências Bibliográficas
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