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Tendencias no consumo de alimentos pela terceira idade

Tendências No Consumo Alimentar Dos Idosos Brasileiros

Marianna S. C. e Magnoni

Estudos populacionais mostram que, em 1830, a espécie humana atingia aproximadamente um bilhão de pessoas. Isso foi resultado de um esforço de milhões de anos. Os rápidos avanços tecnológicos permitiram que, menos de um século depois, em 1927, esse número dobrasse. Em 1960, em virtude do Baby Boom, a população mundial já se aproximava de três bilhões de habitantes. Desde então, o crescimento populacional vem ocorrendo de forma acelerada e, em outubro de 2011, a espécie humana atingiu o patamar populacional de sete bilhões.

Em paralelo ao processo de aumento da população, a humanidade aumentou sua longevidade. O envelhecimento da população é um fenômeno que esta acontecendo com uma velocidade ainda maior do que o aumento numérico da espécie, sobretudo nos países desenvolvidos. Ele continuará a aumentar graças aos avanços da medicina, engenharia genética e da biotecnologia. De acordo com Corral, 2010, estima-se que nas próximas décadas o ser humano conseguirá alcançar a idade de 120-130 anos.

 A Organização Mundial da Saúde classifica o idoso como alguém com idade superior a 65 anos nos países desenvolvidos e com mais de 60 anos naqueles em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. De acordo com Corral, 2010, estima-se que a população mundial de idosos seja de 629 milhões de pessoas com taxa de crescimento anual em torno de 2%. Este ritmo é consideravelmente mais alto, em relação ao resto da população, de 1,2% aa, e três vezes maior do que há 50 anos.

Segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, a expectativa de vida no Brasil está em crescimento contínuo. Já no ano de 2008 a média etária subiu para 72,7 anos, - 76,6 anos para as mulheres e 69 anos para os homens - um aumento de 27,02 anos de vida em relação a 1945 (45,5 anos) IBGE 2008. De acordo com a projeção de mortalidade publicada pelo IBGE 2008, o Brasil continuará aumentando sua taxa de expectativa de vida e no ano de 2050 atingirá o patamar de 81,29 anos, isso significa o mesmo nível atual da Islândia (81,80), Hong Kong, China (82,20) e Japão (82,60), países desenvolvidos e com alta expectativa de vida.

O índice de envelhecimento é a relação existente entre o número de idosos e a população jovem. Segundo dados IBGE 2008 o índice de envelhecimento brasileiro aponta mudança na estrutura etária nacional, em 2008, para cada grupo de 100 crianças de 0 a 14 anos existia 24,7 idosos de 65 anos ou mais. Em 2050, o quadro mudará e para cada 100 crianças de 0 a 14 anos existirão 172, 7 idosos, ou seja, existirão muito mais idosos do que crianças no Brasil. Segundo as projeções realizadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada – IPEA, o grupo dos idosos ultrapassará os 14% do total da população brasileira em 2020. A proporção da população “mais idosa”, ou seja, de 80 anos ou mais no total da população brasileira, também está aumentando, em ritmo acelerado. Em 1940, os “mais idosos” somavam 166 mil pessoas, em 2000 eles já eram um grupo de 1,9 milhão de pessoas.

 Nos países desenvolvidos o envelhecimento da população ocorreu quando já existiam padrões elevados de vida, o que reduziu as desigualdades sociais e econômicas e facilitou a implementação de estratégias institucionais para a compensação dos efeitos causados pela senescência da população, Corral (2010). Os países em desenvolvimento estão envelhecendo “prematuramente”, o estado de saúde e a incapacidade da população tendem a piorar e as redes familiares e sociais não estão preparadas para receber esse novo perfil de idosos (Palloni, 2000).

  Para uma melhor compreensão do grupo social dos idosos é preciso entender que eles não são um grande grupo homogêneo, mas sim provenientes de cenários diferentes e portadores de características diversas. Segundo dados do IBGE 2000, a maioria dos idosos brasileiros são mulheres 62,4% com idade média de 69 anos. Em 1996, mais da metade dos idosos declarou-se branca, representando 9,7% da população total de brancos, e menos de 1% declarou-se amarelo, porém representavam 15,3% dessa população. Em 2000, segundo dados do IBGE 2000, ainda existiam, no Brasil, 5,1 milhões de idosos analfabetos e 64,8% declararam que sabiam ler e escrever um bilhete simples. Sendo que, proporcionalmente, os homens são mais alfabetizados que as mulheres (67,7% contra 62,6%, respectivamente). Segundo o estudo SABE, (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento) 21% dos deles nunca frequentaram a escola, e, segundo o IBGE 2000, 3,4 anos é a média de escolaridade do idoso brasileiro.  Quando estudamos o grupo dos idosos é importante analisarmos que em todo o país, 64,7% deles não moram sozinhos, podendo dividir a casa com cônjuge, filhos e/ou outros. Residir na cidade pode beneficiar o idoso devido aos serviços especializados de saúde e outros facilitadores do cotidiano. Assim, o grau de urbanização da população idosa também acompanha a tendência da população total, ficando em torno de 81% em 2000, IBGE 2000.    

Grande parte da sociedade acredita que o idoso é dependente econômico, no entanto, esse paradigma esta se alterando. O censo de 2000 apontou que 62,4% dos idosos eram responsáveis pelos domicílios brasileiros. Dentro da população idosa masculina, 36% do total do rendimento advêm do trabalho, apesar da aposentadoria e da pensão ainda serem as principais fontes de renda dos idosos responsáveis por domicílio. No grupo de mulheres idosas, o percentual de responsáveis pelo domicílio é de 10%, sendo a principal fonte de renda a pensão. De acordo com Corral, 2010, em 1998, a situação do idoso brasileiro, no quesito de renda, era bem melhor que em 1981.  Menos de 12% dos idosos brasileiros, não possuíam nenhum tipo de renda em 1998. Em 1981, o percentual era de 21%. De acordo com os dados do IBGE 2002 o idoso tem um rendimento médio de R$ 657,00, o que vem conferindo ao grupo uma importância econômica cada vez maior.

Desta forma pode-se entender que o idoso brasileiro é em sua grande maioria composto de mulheres, com 69 anos, brancas com renda média de R$ 657,00, baixa escolaridade, morando com parentes nos grandes centros urbanos e são responsáveis economicamente por seus lares . Esses dados nos mostram que o idoso é um consumidor com poder de consumo, frequenta varejos dos grandes centros urbanos e possui baixa capacidade de compreensão de texto.

  A manutenção da capacidade funcional e da autonomia são metas importantes para esse grupo. Os idosos querem ter longevidade com qualidade de vida. A indústria alimentícia tem a possibilidade de satisfazer esse desejo. Um estudo da empresa de inteligência de marketing XTC, 2009, observou que alimentos com propostas voltadas à saudabilidade se tornaram um importante foco de inovações no Brasil, no período de 2007-2008. De acordo com os resultados da pesquisa Brasil Food Trends 2020,  que avaliou tendências e comportamento da população brasileira nas grandes cidades, a demanda por alimentos frescos, naturais e mais nutritivos deverá aumentar significativamente nos próximos anos. Cada vez mais haverá uma procura por alimentos saudáveis e funcionais, que promovem benefícios para a saúde cardiovascular, redução do colesterol, fortalecimento do sistema imunológico e que, de forma geral, ajudam a população a melhorar e prolongar sua capacidade funcional e de autonomia.

  De acordo com o Brasil Food Trends 2020, a busca por uma alimentação mais saudável altera significativamente as atitudes dos consumidores em relação à composição dos alimentos ou quanto à forma pela qual são processados. Determinados itens oferecem alternativas para a redução de substâncias que os consumidores desejam evitar, tais como sal, açúcar e gorduras, Além disso, produtos mais tradicionais como macarrão, águas, bolachas e refrigerantes são lançados em novas versões fortificadas com vitaminas e sais minerais.

De acordo com dados do Natural Marketing Institute, 2008, o desejo de prevenir doenças é um dos principais motivos para a valorização por parte dos consumidores por uma alimentação mais saudável. A alimentação representa um importante auxílio na prevenção de doenças, os consumidores que se alimentam de forma mais saudáveis apresentam uma maior longevidade e apresentam menor propensão a doenças.

A escolha de produtos alimentícios com saudabilidade é um fator decisivo para toda a sociedade, mas ainda mais para os idosos. Os consumidores da terceira idade que colocam em sua cesta produtos que contribuem para a prevenção de doenças e para o fortalecimento do sistema imunológico tem uma menor propensão ao desenvolvimento de inúmeras doenças. A alimentação é ser encarada como uma forma de manutenção da saúde.

A indústria alimentícia precisa conhecer melhor o consumidor idoso para conseguir desenvolver formas de satisfazer suas necessidades. No momento da escolha do produto as informações contidas na embalagem servem para informar ao consumidor dos atributos de saudabilidade encontrados no produto em questão. De acordo com uma pesquisa mundial realizada pela ACNielsen, 2005, os consumidores da América Latina tem alto interesse por obter informações nutricionais nas embalagens. Contudo, outra pesquisa realizada pelo instituto de Pesquisa Ipsos com 1.200 brasileiros em 2008 revelou que 49% têm dificuldade em escolher alimentos saudáveis e 75% gostaria que a indústria alimentícia ajudasse em suas escolhas. Os idosos têm ainda maior dificuldade na escolha de produtos, pois apresentam baixa escolaridade média e dificuldades sensoriais que podem atrapalhar a leitura dos rótulos.

Os selos de qualidade, conferidos por sociedades ligadas às diferentes áreas da saúde, são uma ferramenta importante nesse sentido, pois são de fácil entendimento e apresentam um parecer sobre a saudabilidade do produto em questão. O selo da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), por exemplo, identifica produtos que auxiliam o consumidor na prevenção de doenças cardiovasculares. O Brasil Trend Foods 2020 classificou os selos como uma importante tendência no setor alimentício. Existem outras ações de fácil execução que poderiam facilitar o conhecimento e compra de produtos pelos idosos, como por exemplo, o aumento do tamanho da fonte das palavras nas embalagens.

O crescimento da população idosa, somado ao aumento de seu poder econômico, e as melhorias na qualidade de vida desse grupo social estão impulsionando a indústria alimentícia a buscar soluções para esse grupo. Antes de tudo, entretanto, é preciso analisar as mudanças que atingiram esse segmento da população. Antes eles eram vistos como um grupo homogêneo e dependente economicamente, hoje eles são um grupo que precisa ser entendido, por ser heterogêneo e com poder de compra em crescimento. O segmento de produtos voltados para a terceira idade ainda é pouco explorado pela Indústria do consumo e por isso se configura como uma grande oportunidade para diversas empresas. Os idosos ainda carecem de produtos que saciem suas necessidades. A indústria alimentícia pode se tornar uma aliada desse grupo, pois pode ajudá-los atingir o objetivo de longevidade e contribuir para que mantenham sua autonomia.

BIBLIOGRAFIA

ACNIELSEN. Estudo global sobre informação nutricional. ACNielsen América Latina, 2005

Brasil Food Trends 2020.  FIESP, São Paulo, 2010

CAMARANO, A. A., MEDEIROS, M. Introdução. In: CAMARANO, A. A. (org.). Muito além dos 60: os novos idosos brasileiros. Rio de Janeiro: IPEA, dez. 1999.

Corral L. R., Epidemiologia da Terceira Idade no Brasil in Nutrição na Terceira Idade, Magnoni D. et al - Segunda edição - São Paulo: SARVIER, 2010

XTC WORLD INNOVATIONS. XTC Panorama mondial de l`innovation 2009: Mexico XTC, 2009

IBGE, 1998. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Rio de Janeiro. IBGE

IBGE, 2002, Censo Demográfico, 2000, Rio de Janeiro. IBGE

IBGE, 2008, Comunicação Social 2008, Rio de Janeiro. IBGE

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