Dr. Daniel Magnoni
Pres. da Soc. Bras. de Nutrição Clínica e Nutrição Parenteral e Enteral
Secretário da Federação Latino Americana de Nutrição
Cardiologista e Nutrólogo do Hospital do Coração
A nutrição configura-se como uma das primeiras atuações dos profissionais de saúde no lidar diário na arte de curar e prevenir doenças.
Na análise das atuações sócio culturais das tribos nômades que vagavam pelos campos da antigüidade, podemos identificar indivíduos que dedicavam-se à guerra, à procura de alimentos como caça e pesca ou ao cotidiano tribal. No entanto, em cada grupo , sempre existiam pessoas " pajés ou curandeiros… " que promoviam ações de cura e orientação; podemos identificar nesses, o embrião do médico moderno.
Qual o arsenal terapêutico à disposição desses "médicos "? Certamente uma mistura de caldos, chás e infusões. Nesse aspecto, a nutrição oferecida aos convalescentes, além de nutrir, curava por meio das funções naturais e farmacológicas dos alimentos.
A Especialidade Nutrição Clínica tem como objeto primário, procedimentos médicos que busquem adequar o estado nutricional nas diferentes faixas etárias e condições mórbidas. Nas patologias como a Insuficiência Renal até às cardiopatias mais complexas, na obesidade à desnutrição grave, no Diabetes Melitus aos estados carênciais da gravidez e até mesmo nas necessidades nutricionais dos atletas, existe a obrigação de conhecer o metabolismo intermediário nutricional e hormonal e a fisiopatologia, por vezes complexa, da grande variedade de diagnósticos.
Diagnosticar desnutrição protéico calórica precoce ou síndromes carênciais específicas, demanda conhecimento de conceitos modernos e pode necessitar de técnicas próprias e especializadas.
Infelizmente, no Brasil, há um desconhecimento em relação à prevalência de distúrbio nutricionais e seu impacto negativo na evolução e mortalidade de muitos enfermos. Instituir Terapia Nutricional, oral, enteral ou parenteral requer o domínio de técnicas de passagem de sondas nasoentéricas, posicionamento de catéteres venosos centrais, conhecimentos das diferentes dietas disponíveis para as diversas situações de cada enfermo, prescrição e manuseio de soluções parenterais e seu controle bacteriológico.
Nos últimos anos, ocorreu grande desenvolvimento no conhecimento de nutrientes e a utilização destes como drogas imuno-farmacológicas. É o caso de vitaminas e minerais, atuando como antioxidantes, assim como determinados aminoácidos e lípides como agentes imunomoduladores.
Outro ponto relevante da relação entre saúde – internação hospitalar e ato de curar, reside na gastronomia hospitalar. Esta adquire especial importância nos dias atuais, motivada pela crescente necessidade das instituições de saúde em expandir os serviços auxiliares à terapêutica curativa.
No entanto o grande erro das instituições que tentam incrementar serviços sofisticados de gastronomia, reside na exclusão da importante relação entre a alimentação oferecida e as características sócio culturais dos pacientes.
A solução reside na intersecção de cuidados especiais de sofisticação na elaboração do cardápio, com a observação de peculiaridades individuais de cada paciente, tais como: religião, hábitos culturais, origem geográfica etc.
Como exemplo clássico temos o assombro da equipe de nutrição frente a inapetência de um senhor idoso de origem nipônica confrontado a um saboroso fetuchini à bolonhesa, nesse caso, seria extremamente saudável a oferta de um magnifico prato de sushis e sashimis, que pode, muito bem, ser executado com os rigores dietoterápicos hospitalares.
. O paciente não procura sofisticação no cardápio, procura a unidade de atenção à saúde para atenuar a dor ou tratar doenças. Nesse universo de atendimento médico e atenção à saúde o cardápio incorpora momentos de "bem viver". A relação positiva entre o momento de alimentação e a realidade individual do mundo extra hospital pode promover ações sinérgicas ao tratamento. O valor de uma alimentação semelhante ao dia a dia de cada indivíduo, retornando-o ao seu mundo, pode minimizar o sofrimento e alicerçar bases positivas à terapêutica.
As ações de saúde voltadas à cardiologia, continuadamente incorporam conceitos de prevenção às doenças, nos quais os cuidados nutricionais exercem papel primordial.
Sem considerar as clássicas orientações preconizadas no controle das dislipidemias, a orientação nutricional exerce franca atuação no controle da obesidade e da Diabetes Melitos, pode atuar sinérgicamente à terapêutica farmacológica no controle da Hipertensão Arterial Sistêmica e aos distúrbios do trato digestório, comumentemente encontrado nos pacientes com uso de inúmeros medicamentos.
A Terapia Nutricional, caracterizada pela Nutrição Enteral ou Parenteral, atua de forma impactante no resultado hospitalar de melhora nos índices de morbidade e mortalidade. Existe atualmente, consenso internacional acerca de Terapia Nutricional. Nesse contexto estão claras as relações dessa terapia com maior rotatividade de leitos e maior eficiência ao sistema de saúde que incorpora padrões de excelência nos cuidados nutricionais.
A Terapia Nutricional gera receita às instituições, seja no sentido estrito de incremento nas atuações primeiras, seja no alavancar de conceitos de qualidade às ações correlatas de enfermagem e pessoal paramédico assistêncial.
Por fim consideramos de grande importância a existência de Serviços de Nutrição Clínica nas instituições de saúde, o médico Nutrólogo, parceiro da equipe multidisciplinar ( Nutrição, Enfermagem., Psicologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Farmácia) pode proporcionar incrementos de qualidade no ato de curar e prevenir.
O Hospital do Coração possui um dos mais antigos serviços de Nutrição Clínica do Brasil, responsável por alguns prêmios internacionais em Congressos Americanos e diversos trabalhos científicos referenciais na área de Nutrição do Brasil.
O serviço de Nutrição Clinica do Hospital do Coração atua, executando ações de diagnóstico ( Bioimpedânciometria e vídeo deglutograma oral ), atendimento ambulatorial nas sindromes nutricionais e promovendo ações normativas em Terapia Nutricional Enteral e Parenteral aos pacientes internados na instituição.
