Obesidade dietas e considerações

( adaptado do capítulo – Obesidade – IDPC) 

Dra. Cristiane Moulin
Endocrinologista – IMeN

Regulação do balanço de energia

Obesidade é uma condição complexa e multifatorial caracterizada por excesso de gordura corporal (11). Embora a obesidade tenha fortes determinantes genéticos e fisiológicos, é geralmente aceito que ela resulta do desequilíbrio crônico entre gasto e consumo energéticos.

Os três maiores componentes do gasto energético são (12):

•  Taxa metabólica basal, que corresponde à energia gasta por um indivíduo em repouso no leito pela manhã, em jejum, sob condições ambientais confortáveis. Em adultos sedentários, contribui para 60-70% do gasto energético diário. Depende da massa magra, massa gorda, idade, sexo e da genética.

•  Efeito térmico dos alimentos, o qual contribui em cerca de 10% do gasto energético diário. Sofre influência, entre outros fatores, do tamanho e composição da refeição e da sensibilidade insulínica.

•  Atividade física, que é o componente mais variável, podendo contribuir para uma quantidade significativa de energia gasta em pessoas muito ativas.

O consumo de energia é determinado pela ingestão de macronutrientes. Os nutrientes têm diferentes propriedades em termos de conteúdo calórico, densidade energética, efeito térmico (custo de energia do processo de absorção, processamento e estoque dos nutrientes), capacidade de estocagem, auto-regulação e habilidade em suprimir a fome (tabela 2) (5).

Tabela 2: Propriedades dos macronutrientes

Propriedades

gordura

proteína

carboidrato

álcool

Kcal/g

9

4

4

7

Densidade energética

Alta

Baixa

Baixa

Alto

Efeito térmico *

2-3%

25-30%

6-8%

15-20%

Capacidade de estocagem

Alta

Nenhuma

Baixa

nenhum

Auto-regulação

Pobre

Boa

Boa

Pobre

Habilidade em suprimir fome

Baixa

Alta

Alta

Estimulante

* como % de conteúdo de energia

Adaptado de Labib M (5)

Logo, pelas propriedades da gordura, sua ingestão parece particularmente importante em conduzir ao ganho de peso quando comparado com carboidratos e também proteínas. Entretanto, para redução do peso corporal, dietas pobres em gordura não são eficazes sem que ocorra redução simultânea da ingestão calórica total (13).

Como visto na tabela 2, os macronutrientes competem numa hierarquia oxidativa. A seleção do nutriente para a obtenção de energia após ingestão alimentar depende das concentrações plasmáticas de glicose, insulina e ácidos graxos livres. Após uma refeição rica em carboidrato, a insulina promove captação e oxidação de glicose e inibe a lipólise e oxidação lipídica. Em contraste, as gorduras da dieta são primariamente depositadas no tecido adiposo e a oxidação lipídica não é estimulada após refeição rica em gordura. A oxidação prioritária do carboidrato, em detrimento da gordura, resulta na supressão da oxidação da gordura dietética, o que leva ao aumento do estoque da mesma (14).

A solução – consenso entre dieta e hábitos de vida

Embora vários planos dietéticos possam enfatizar fatores que afetem a fome e a saciedade, redução calórica é o componente essencial e condição sine qua non da perda de peso (21, 58). Todas dietas pobres em calorias resultam em perda de peso e gordura corporais, não exercendo, portanto, sua composição de macronutrientes papel principal (58). É importante salientar que qualquer tentativa de redução calórica que não seja compatível com o estilo de vida é difícil de ser mantida a longo prazo.

O tratamento medicamentoso auxilia a perda de peso a curto e longo prazo, porém deve ser recomendado apenas como adjunto ao tratamento não farmacológico, já que a atividade física e dieta balanceada reduzem o risco de doença cardiovascular e, sem modificações do estilo de vida, a farmacoterapia sozinha tem resultados “subótimos” (59).

Em casos de obesidade grave, a cirurgia bariátrica tem comprovado benefício comprovado na melhora das comorbidades e qualidade de vida, porém os efeitos adversos possíveis a longo prazo ainda são desconhecidos.

A receita para perda de peso é uma combinação de motivação, atividade física e restrição calórica. Já a manutenção de peso é um balanço entre ingestão calórica e atividade física, com aderência para o resto da vida. Estratégias que facilitem a aderência a um programa de mudança comportamental devem ser tentadas.

 

Referências para aprofundar o conhecimento

  1. Flegal KM, Carroll MD, Ogden CL, Johnson CL. Prevalence and trends in obesity among USA adults, 1999-2000. JAMA 2002 ; 288: 1723-7.
  2. Monteiro CA, Conde WL. A tendência secular da obesidade segundo estratos sociais: Nordeste e Sudeste do Brasil, 1975-1989-1997. Arq Bras Endocrinol Metab 1999 ; 43: 186-94.
  3. Sichieri R, Coitinho DC, Leão MM, Recine E, Everhart JE. High temporal, geographic, and income variation in body mass index among adults in Brazil . Am J Public Health 1994 ; 84: 793-8.
  4. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003: análise da disponibilidade domiciliar de alimentos e do estado nutricional no Brasil. IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2004 .
  5. Labib M. The investigation and management of obesity. J Clin Pathol 2003 ; 56: 17-25.
  6. Wolf AM, Colditz GA. Social and economic effects of body weight in the United States . Am J Clin Nutr 1996 ; 63: 466S-9S.
  7. Allison DB, Fontaine KR, Manson JE, Stevens J, VanItallie TB. Annual deaths attributable to obesity in the United States . JAMA 1999 ; 282:1530-8.
  8. World Health Organization (WHO). Obesity: preventing and managing the global epidemic. Tech Rep Series n o 894 . Geneva : WHO, 2000 .
  9. The IDF consensus worldwide definition of metabolic syndrome. http://www.idf.org.
  10. Hans TS et al. Waist circumference action levels in identification of cardiovascular risk factors: prevalence study in a random sample. BMJ 1995 ; 311: 1401-5.
  11. AACE/ACE Obesity Task Force. AACE/ACE position statement on the prevention, diagnosis, and treatment of obesity (1998 Revision). Endocrine Practice 1998 ; 4: 297-349.
  12. Ravussin E, Swinburn BA. Pathophysiology of obesity. Lancet 1992 ; 340: 404-9.
  13. Willet WC. Is dietary fat a major determinant of body fat? Am J Clin Nutr 1988 ; 67 (suppl) 556S-62S.
  14. Saris WHM. Sugars, energy metabolism, and body weight control. Am J Clin Nutr 2003 ; 78 (suppl): 850S-7S.
  15. Costa AA, Neto JSA. Índice glicêmico. Em: Manual de Diabetes: educação, alimentação, medicamentos, atividades físicas. Brasil: Sarvier, 2004; 34-5.
  16. Acheson KJ. Carbohydrate and weight control: where do we stand? Curr Opin Nutr Metab Care 2004 ; 7: 485-92.
  17. Foster-Powell K, Holt SHA, Brand-Milller JC. International table of glycemic index and glycemic load values: 2002. Am J Clin Nutr 2002 ; 76: 5-56.
  18. Brand-Miller JC, Holt SHA, Pawlak DB, McMillan J. Glicemic index and obesity. Am J Clin Nutr 2002 ; 76 (suppl): 281S-5S.
  19. Ludwig DS. The glycemic index: physiological mechanisms relating to obesity, diabetes,and cardiovascular disease. JAMA 2002 ; 287: 2414-23.
  20. Pawlak DB, Ebbeling CB, Ludwig DS. Should obese patients be counselled to follow a low-glycaemic index diet? Yes. Obes Rev 2002 ; 3: 235-43.
  21. Lara-Castro C, Garvey WT. Diet, insulin resistence, and obesity: zoning in on data for Atkins dieters living in South Beach . JCEM 2004 ; 89: 4197-205.
  22. Ludwig DS. Glycemic load comes of age. J Nutr 2003 ; 133: 2695-6.
  23. Raben A. Should obese patients be counselled to follow a low-glycaemic index diet? No. Obes Rev 2002 ; 3: 245-56.
  24. Bray GA, Popkin BM. Dietary fat intake does affect obesity! Am J Clin Nutr 1998 ; 68: 1157-73.
  25. Tuomilehto J et al. Prevention of type 2 diabetes mellitus by changes in lifestyle among subjects with impaired glucose tolerance. N Engl J Med 2001 ; 344: 1343-50.
  26. Diabetes Prevention Program Research Group. Reduction in incidence of type 2 diabetes with lifestyle intervention or metformin. N Engl J Med 2002 ; 346: 393-403.
  27. Samaha FF et al. A low-carbohydrate as compared with a low-fat diet in severe obesity. N Engl J Med 2003 ; 348: 2074-81.
  28. Foster GD et al. A randomized trial of low-carbohydrate diet for obesity. N Engl J Med 2003 ; 348: 2082-90.
  29. Brehm BJ, Seeley RJ, Daniels SR, D’Alessio DA. A randomized trial comparing a very low carbohydrate diet and a calorie-restricted low fat diet on body weight and cardiovascular risk factors in healthy women. J Clin Endocrinol Metab 2003 ; 88: 1617-23.
  30. Sondike SB, Copperman N, Jacobson MS. Effects of a low-carbohydrate diet on weight loss and cardiovascular risk factors in owerweight adolescents. J Pediatr 2003 ; 142: 253-8.
  31. Denke MA. Metabolic effects of high-protein, low-carbohydrate diets. Am J Cardiol 2001 ; 88: 59-61.
  32. Franz MJ. The answer to weight loss is easy – doing it is hard! Clinical Diabetes 2001 ; 19: 105-9.
  33. Noakes M, Clifton P. Weight loss, diet composition and cardiovascular risk. Curr Opin Lipidol 2004 ; 15: 31-5.
  34. van Dam RM, Willett WC, Rimm EB, Stampfer MJ, Hu FB. Dietary fat and meat intake in relation to risk of type 2 diabetes in men. Diabetes Care 2002 ; 25: 417-24.
  35. Hu FB, Willett WC. Optimal diets for prevention of coronary heart disease. JAMA 2002 ; 288: 2569-78.
  36. Bravata DM et al. Efficacy and safety of low-carbohydrate diets: a systematic review. JAMA 2003 ; 289: 1837-50.
  37. Teegarden D . The influence of dairy product consumption on body composition. J Nutr. 2005 ; 135: 2749-52.
  38. Zemel M. Calcium modulation of adiposity. Obes Res 2003 ; 11: 375-6.
  39. Lorenzen JK , Molgaard C , Michaelsen KF , Astrup A . Calcium supplementation for 1 y does not reduce body weight or fat mass in young girls. Am J Clin Nutr. 2006 ; 83: 18-23.
  40. Harvey-Berino J , Gold BC , Lauber R , Starinski A . The impact of calcium and dairy product consumption on weight loss. Obes Res. 2005 ; 13:1720-6.
  41. Heymsfield SB, van Mierlo CAJ, van der Knaap HCM, M Heo, Frier HI. Weight management using a meal replacement strategy: meta and pooling analysis from six studies. Int J Obes 2003 ; 27: 537-49.
  42. Flechtner-Mors M, Ditschuneit HH, Johnson TD, Suchard MA, Adler G. Metabolic and weight loss effects of long-term dietary intervention in obese patients: four-year results. Obes Res 2000 ; 8: 399-402.
  43. Ashley JM et al. Weight control in the physician’s office. Arch Int Med 2001 ; 151: 1599-1604.
  44. Ditschuneit HH, Flechtner-Mors M, Johnson TD, Adler G. Metabolic and weight-loss effects of a long-term dietary intervention in obese patients. Am J Clin Nutr 1999; 69: 198-204.
  45. Rothacker DQ. Five-year self-management of weight using meal replacements: comparison with matched controls in rural Wisconsin . Nutrition 2000 ; 16: 344-8.
  46. Wing RR, Jeffery RW. Food provision as a strategy to promote weight loss. Obes Res 2001 ; 9: 271S-5S.
  47. Kopelman PG. Practical prescribing. In: Medeiros-Neto G, Halpern A, Bouchard C. Progress in Obesity Research: 9 . France : Editions John Libbey Eurotext; 2003 . p. 881-6.
  48. Klein S, Romijn JA. Obesity. In: Larsen PR, Kronenberg HM, Melmed S, Polonsky KS . Williams Textbook of Endocrinology: Tenth Edition . USA : Saunders; 2003 . p. 1619-41.
  49. Matos AFG, Carraro LM. Tratamento medicamentoso da obesidade. In: Vilar L et al . Endocrinologia Clínica : 2ª edição.Medsi; 2001 . p. 747-63.
  50. Halpern A, Mancini MC. Diabesity: are weight loss medications effective? Treat Endocrinol 2005 ; 4: 65-74.
  51. Mayer LE , Walsh BT . The use of selective serotonin reuptake inhibitors in eating disorders. J Clin Psychiatry. 1998 ; 59 (Suppl 15):28-34.
  52. Connolly HM et al. Valvular heart disease associated with fenfluramine-phentermine. N Engl J Med 1997:337: 581-8.
  53. Ioannides-Demos LL, Proietto J, McNeil JJ. Pharmacotherapy for obesity. Drugs 2005 ; 65:1391-1418.
  54. Anti-obesity drugs guidance on appropriate prescribing and management. A report of a working party of the Nutrition Committee of the Royal College of Physicians. http://www.rcplondon.ac.uk/news/news.asp?PR_id=171.
  55. Sjostrom LV. Mortality of severely obese subjects. Am J Clin Nutr 1992 ; 55: 516S-23S.
  56. Choban PS, Jackson B, Poplawski S, Bistolarides P. Bariatric surgery for morbid obesity: why, when, how, wher, and then what? Clev Clin J Med 2002 ; 69: 897-903.
  57. Expert Panel on Weight Loss Surgery – Executive Report, Ridley. Obes Res 2005 ; 13: 205-26.
  58. Freedman MR, King J, Kennedy E. Popular diets: a scientific review. Obes Res 2001 ; 9(suppl): 1S-40S.
  59. Phelan S, Wadden TA. Combining behavioral and pharmacological treatments for obesity. Obes Res 2002 ; 10: 560-74.