Terapia Nutricional em crianças com Leucemia

TERAPIA NUTRICIONAL PARA AS CONSEQUÊNCIAS DA QUIMIOTERAPIA EM CRIANÇAS COM LEUCEMIA LINFOCÍTICA AGUDA

ALVES, Renata F.; COELHO, Barbara F.B.; KOCSIS, Thaís S.; MARTINS, Tatiana D.S.; RESENDE, Letícia F.*FIGUEIREDO, Alyne A. A.; GUERTZENSTEIN, Solange M. J; REZENDE, Luciana T. T.

INTRODUÇÃO

 A Leucemia Linfocítica Aguda (LLA) é o tipo de câncer mais freqüente na infância, caracterizada pela expansão anormal de precursores linfóides imaturos que acarreta no acúmulo de células jovens, denominadas blastos. Equivale a 80% dos casos de leucemia, com incidência máxima em crianças entre três e cinco anos, acometendo mais caucasianos quando comparada a afro-americanos, sendo uma doença mais comum no sexo masculino na proporção de 1,3: 1. Por ser uma doença disseminada na sua apresentação clínica, o tratamento deve basear-se em drogas de ação sistêmica, as quais podem trazer conseqüências nutricionais aos indivíduos portadores da LLA 1 2 3 .

OBJETIVO

Fazer uma pesquisa científica sobre a terapia nutricional nos efeitos colaterais das drogas quimioterápicas utilizadas nas leucemias em crianças.

METODOLOGIA

Estudo realizado por meio de revisão bibliográfica nos idiomas português, inglês e espanhol, a partir do ano de 2003, pesquisados nas bases de dados Scielo, Bireme, Lilacs, Pubmed, utilizando lógicas Booleanas para a busca com as seguintes palavras chaves: leucemia and criança, estado nutricional and leucemia linfocítica aguda, nutrição and leucemia, quimioterapia and leucemia.

DESENVOLVIMENTO

Figura 1. Linfócitos imaturos

Fonte: www..medcenter.com.br

A LLA é uma doença maligna na produção de linfócitos imaturos (Figura 1), com origem na maioria das vezes, desconhecida, podendo ser causada por fatores extrínsecos (exposições nucleares, exposição intra-uterina à irradiação) e intrínsecos (Síndrome de Down, parentes próximos com LLA). Pode ser diagnosticada através de exames bioquímicos tais como hemograma completo, imunofenotipagem, cariótipo e mielograma. Através deste último, a doença é firmada pela presença de mais de 25% de células leucêmicas na punção aspirativa da medula óssea 4 5.

Observa-se anemia decorrente à diminuição de eritrócitos, além das alterações nas concentrações de zinco e cobre, sendo que a deficiência de zinco interfere na capacidade de perceber sabores e odores de alguns tipos de alimentos, e a de cobre indica diminuição da atividade da doença 4 5 6 7 8.

O tratamento da leucemia através da quimioterapia antineoplásica é uma maneira importante e promissora para combater o câncer. No entanto, pode ter efeito adverso sobre o equilíbrio nutricional, trazendo consequências mostradas no algorítimo abaixo.

Figura 2. Algorítmo dos principais sintomas que causam anorexia causados pela LLA.

Fonte: Fonte: Adaptação das referências 1 2 7 8 9 10

Em função de tais sintomas e da caracterização catabólica da doença deve-se adotar uma dieta hipercalórica, hiperprotéica, normolipídica e normoglicídica. Outras condutas nutricionais estão demonstradas no Quadro 1. Devido à neutropenia, estes indivíduos estão suscetíveis a riscos de infecções sendo necessário adotar uma dieta neutropênica a qual é caracterizada por ser isenta (total ou parcial) de microrganismos 3 4 10 .

O uso de arginina e glutamina pode trazer benefícios como inibição do crescimento tumoral, e recuperação intestinal após o trauma causado pela quimioterapia, melhora do quadro diarréico e aumenta a seletividade de drogas antitumorais 1 9 10.

Quadro 1. Efeitos Colaterais e Terapia Nutricional da LAA.

Efeitos Colaterais

Terapia Nutricional

Diarréia

Aumentar a ingestão de líquidos, aumentar fontes de fibras solúveis, diminuir a ingestão de alimentos que contenham lactose, diminuir a ingestão de gordura e de alimentos flatulentos.

Náuseas e Vômitos

Não ingerir líquidos durante as refeições, e não deitar após as mesmas. Aumentar o fracionamento da dieta.

Xerostomia

Consumir balas de hortelã ou limão. Os alimentos devem estar em consistência pastosa ou líquida.

Anorexia

Aumentar densidade calórica das refeições com maior fracionamento da dieta.

Disgeusia

Introduzir à dieta alimentos que sejam da preferência do paciente. Introduzir nas preparações temperos e ervas Utilizar utensílios de plástico para amenizar o gosto metálico.

Estomatites e Mucosites

Evitar o uso de condimentos, alimentos ácidos ou muito salgados.

Anemia

Aumentar o consumo de alimentos fontes de ferro (heme e não heme), vitamina C, e alimentos fontes de Zinco.

Constipação

Aumentar o consumo de fibras insolúveis e o consumo de líquidos.

Saciedade Precoce

Aumentar o fracionamento da dieta, não ingerir líquidos durante as refeições. Evitar o consumo excessivo de fibras e gorduras.

Fonte: adaptação das referências 1 2 7 8 9 10

Alguns estudos mostram que na ausência de intervenção médica e nutricional, essa doença pode provocar morte dentro de poucos meses, ou ainda gerar sobrepeso/obesidade para sobreviventes da LLA 1 2 12 13 14.

Em um estudo realizado em Brasília, de acordo com depoimentos dos responsáveis pelas crianças e das nutricionistas, as principais causas de rejeição aos alimentos são náuseas e vômitos que iniciavam, antes mesmo da refeição. Outros estudos mostram que durante o ciclo da quimioterapia, crianças e adolescentes apresentaram redução de 40-50% na ingestão habitual 2 11.

CONCLUSÃO

               Fazer um suporte nutricional adequado em crianças com  LLA e melhorar  a  tolerância  antineoplásica e as suas conseqüências  fundamental. Deve-se oferecer valor calórico adequado, ofertas protéicas para reverter quadros de desnutrição, adequar quantidades de micronutrientes para estágios de anemia, poupar o sistema imune através de uma dieta neutropênica (quando necessário), trazendo uma melhora no estado nutricional de crianças debilitadas ao tratamento quimioterápico.

SUGESTÕES

 Estimular o consumo de alimentos para crianças com  anorexia devido a quimioterapia, melhorar a apresentação dos pratos, trabalhando com variedades de alimentos  que estimulem o paladar não tornando o ato de se alimentar traumático para as crianças, agravando quadros de desnutrição, enjôo e vômitos .

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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