Nutrologia Pediátrica – Metabolismo energético na criança

Prof. Dr. Rubens Feferbaum

As necessidades energéticas para os processos metabólicos no organismo são supridas pela degradação de produtos contendo fosfato, especialmente o trifosfato de adenosina(ATP). Estes compostos não estão disponíveis em estoques e por este motivo, têm necessidade de síntese contínua(ARAUJO,1991; CERRA,1989). Os hidratos de carbono, as gorduras e os aminoácidos são os substratos preferenciais para a formação do ATP.
A oxidação dos hidratos de carbono implica na entrada de glicose para a via de Embden-Meyerhof ; o ATP pode ser gerado por metabolismo anaeróbico do piruvato derivado da glicose ou da conversão de piruvato para acetil- coenzima(Co A ) com a conseqüente entrada no ciclo dos ácidos tricarboxílicos (Araujo,1991; BERGER; ADAMS,1989;DEUTSCHMAN,1992).
De maneira semelhante, na criança, a beta oxidação dos ácidos graxos para acetil Co A promove a entrada destes substratos no ciclo de Krebs, podendo as gorduras também serem convertidas em corpos cetônicos, metabolizados para acetil Co A e desta maneira ingressar no ciclo dos ácidos tricarboxílicos (DEUTSCHMAN,1992).
Diversos aminoácidos podem servir como precursores de acetil Co A em condições fisiológicas especiais ; outros, entram no ciclo dos ácidos tricarboxílicos como alfa-ceto-glutarato, succinil Co A, fumarato ,ou oxalacetato. Parte dos aminoácidos serve como substrato para a neoglicogênese no fígado e rins(BAGLEY et al.,1991).
Durante o período fetal e neonatal a energia derivada para o feto provém continuamente via cordão umbilical na forma de glicose, lactato derivado de glicose e em menor escala dos aminoácidos. A neoglicogênese hepática pode ocorrer no útero e certamente, após o nascimento. No entanto, não se verifica a conversão de aminoácidos para glicose. Da mesma forma, ácidos graxos ou corpos cetônicos não suprem energia para o feto sendo armazenada no feto próximo ao termo da gestação. A gordura acumula-se à razão de 100 calorias por dia no último mês de gestação, especialmente na nuca, no pericárdio e fígado sob a forma de "gordura marrom", rapidamente mobilizada ao nascimento para controle da temperatura do RN.
O glicogênio , fonte vital de energia para o RN nas primeiras horas de vida, acumula-se especialmente no fígado ( 5% do seu peso) e no músculo cardíaco(4 % do peso). Estes estoques são prejudicados quando ocorre prematuridade, retardo de crescimento intra-útero ou anóxia neonatal(WALD,1979).

· Diversos hormônios estão envolvidos no metabolismo energético ; a insulina aparece no pâncreas fetal a partir da 12a semana de gestação, mas não apresenta importância no armazenamento de substratos energéticos. Ao nascimento, o resfriamento corpóreo, trabalho da respiração, atividade e anóxia ocasionam aumento da demanda energética. O RN consome sua reserva de glicogênio em duas ou três horas de vida e precisa alterar seu metabolismo para a manutenção dos níveis glicêmicos adequados; assim, a primeira resposta é a glicogenólise. Posteriormente, ocorre lipólise e aumento plasmático de ácidos graxos. O quociente respiratório (QR) cai durante os três primeiros dias de vida, denotando consumo de gorduras, mediado principalmente pelas catecolaminas e hormônio de crescimento (WALD,1979; CORNBLATH;SCHWARTZ, 1976).

O cérebro do RN requer suprimento contínuo de glicose, que provém da glicogenólise, sendo produzida na taxa de 5 à 8 mg/Kg/min (25-45 Cal/Kg/24 horas). No entanto, a neoglicogenese de aminoácidos, em particular da alanina, de grande importância para adultos, está comprometida no RN, especialmente nos desnutridos intra-útero. Os níveis séricos de glucagon estão aumentados no RN o que estimula a glicogenólise e a neoglicogenese, esta última dependente da função adrenocortical preservada.